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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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‘Decameron’ é uma modernização divertida de um grande clássico

| 31.07.24 - 09:04 ‘Decameron’ é uma modernização divertida de um grande clássico Tanya Reynolds e parte do elenco principal (Foto: Divulgação)O Decamerão, de Giovanni Boccaccio, é talvez a sua obra mais célebre e um dos livros medievais mais importantes da História, resistindo ao teste do tempo ao longo dos séculos. Publicado em 1353, seu volume extenso, teor denso e a complexidade de suas tramas e personagens tornam sua leitura desafiadora e sua adaptação ainda mais difícil.

A trama se centra em um grupo de nobres e seus servos que se refugiam em uma villa na Itália para escapar da peste negra que devastava a Europa, especialmente Florença. Durante o confinamento, o grupo enfrenta a dura realidade de que as normas que conheciam não se aplicam em um mundo em colapso.

Esta obra-prima que inaugura a ficção no Ocidente não intimidou Kathleen Jordan, que assina a adaptação em 8 episódios lançada na Netflix com o simples nome de Decameron, nem a produtora Jenji Kohan, de Orange is the New Black. A adaptação moderniza e reinterpreta a sátira de Boccaccio para uma audiência contemporânea, preservando a crítica profunda à hipocrisia social e, em particular, às falhas da aristocracia e do clero.

Baseada livremente no clássico, a série explora o embate entre classes e a desigualdade social, temas presentes no livro e ainda mais evidentes no século XXI. A obra também se embrenha filosoficamente na questão existencial sobre a falta de sentido da ordem social vigente, especialmente quando confrontada por uma realidade apocalíptica representada pelo colapso social, moral e financeiro causado pela peste.
 
 A minissérie é estruturada como uma comédia de erros, em que as situações inicialmente ruins se agravam progressivamente até o desfecho, levando os personagens ao limite. Os destaques vão para Tanya Reynolds, como Licisca, que atua mais ou menos como protagonista ao viver uma camponesa que se passa por uma nobre, e Zosia Mamet, como a irritante senhora Pampinea, que evolui de uma personagem incômoda para a principal antagonista da trama.
 
Para não me estender demais e, claro, evitar spoilers, deixo apenas minha forte recomendação para esta minissérie excepcional. 


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