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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Setsuko e Seita em 'Túmulo dos Vagalumes' (Imagem: divulgação)
A animação Túmulo dos Vagalumes (1988) era um título cult entre os cults. Feito pelo Studio Ghibli, o filme demorou a ser lançado no Brasil após o sucesso de A Viagem de Chihiro (2001), que finalmente abriu as portas para suas incríveis produções por aqui.
Por décadas, Túmulo foi um filme difícil de achar e, segundo muitos, mais difícil ainda de assistir. Chegamos a 2024 e apenas dois filmes do estúdio não estavam na Netflix: ele e a produção mais recente e vencedora do Oscar, O Menino e a Garça (2023). Após muita espera, Túmulo entrou para o catálogo em setembro, em clima de estreia, apesar de ter mais de 30 anos de idade, e O Menino entra no streaming no dia 7 de outubro.
Ambos os filmes dialogam entre si: neles, o diretor Hayao Miyazaki revisita memórias dolorosas da sua infância de sobrevivente da Segunda Guerra Mundial para contar histórias sensíveis com claras mensagens antiguerra. Mas, se O Menino e a Garça chama a atenção por ser uma fábula, Túmulo dos Vagalumes é uma abordagem muito mais visceral sobre o mesmo tema.
É, de fato, um filme difícil de assistir e muitos espectadores que já conheciam as demais obras de Miyazaki (como os lindíssimos Serviço de Entregas da Kiki, Meu Vizinho Totoro ou O Castelo Animado) vão ficar perplexos com quão doloroso este longa é.
Doloroso, aliás, é a melhor forma de defini-lo: não é fácil de assistir mesmo, mas o que é mais chocante é como este filme lançado décadas atrás consegue ser tão relevante para o cenário em que vivemos agora. A trama acompanha Seita, um pré-adolescente, e sua irmã, Setsuko, que ainda é quase uma bebê. Ambos são filhos de um oficial da marinha imperial japonesa que precisam aprender a se virar quando a mãe deles é gravemente ferida em um bombardeio aliado.
O filme dirige seu olhar para a banalidade da violência do cotidiano da guerra focado nas populações civis indefesas que nada têm e nada podem fazer para combater a ameaça de uma morte invisível que pode simplesmente despencar do céu a qualquer momento, sem contar suas consequências: fome, epidemias e assim por diante.
E é tão dolorido por isso: acompanhamos cotidianamente, hoje, o desenlace de dois grandes conflitos na escala global, um na Europa e outro no Oriente Médio. Mas o que chega até nós e chama a atenção não são conquistas e derrotas: são os crimes de guerra inomináveis e as incontáveis e brutais baixas civis.
Túmulo dos Vagalumes é relevante ao dar um rosto, uma personalidade e um nome a estas vítimas invisíveis, massacradas aos milhares. Talvez a ponta mais dolorosa é saber que Miyazaki está retratando um período histórico anterior à disseminação e revisão das Convenções de Genebra de 1949. A olho nu, porém, nada mudou.
Túmulo dos Vagalumes não foi dirigindo por Hayao Miyazaki, e sim por Isao Takahata que é o cofundador do Studio Ghibli... uma pesquisa rápida no Google teria evitado essa gafe amadora.
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José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br