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Sobre o Colunista

Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música Clássica

Amélia Brandão: a pianista que venceu o preconceito

| 09.08.21 - 18:32
Othaniel Alcântara Jr.
 
A musicista Amélia Brandão Nery (1897-1983) passou boa parte de sua vida morando na cidade de Goiânia. O nome desta pianista e compositora é citado pelo pesquisador Braz Wilson Pompeu de Pina Filho (1946-1994), em seu livro Memória Musical de Goiânia (p. 147), como sendo uma das principais personagens que se sobressaíram no ensino musical, nas primeiras décadas de existência da cidade de Goiânia, esta que foi construída na década de 1930, para ser a nova Capital do Estado de Goiás, em substituição à colonial Cidade de Goiás.
 
Amélia Brandão
Foto publicada na Revista Phono Arte (1930)
Fonte: sescsp.org.br

 
A pianeira1 Amélia Brandão chegou a Goiânia no início dos anos 1950 (provavelmente em 1952), acompanhando sua filha Silene de Andrade e seu genro José Pereira de Andrade, casal que se transferiu para a jovem capital do Estado de Goiás, por motivo de trabalho. Melhor detalhando, aqui em Goiânia, o casal representava a companhia aérea VASP2.
 


Senhora Silene Andrade (sd)
Fonte: ICEBE (Goiânia)
 

É preciso ter em mente que bem antes de chegar a Goiânia, Amélia Brandão já havia construído uma sólida carreira artística em nível nacional. A começar pelos seus 26 anos de idade, aproximadamente, antes do advento da televisão, Tia Amélia ocupou-se com as performances “ao vivo” em teatros e também com apresentações em emissoras de rádio, em especial, na Rádio Clube de Pernambuco.
 
Por volta de 1930, Tia Amélia já fazia sucesso na região Sudeste, sobretudo, no Rio de Janeiro. Afora algumas turnês internacionais, nos anos 1930 e 1940, a renomada pianeira pernambucana costumava se apresentar em, pelo menos, três emissoras radiofônicas cariocas: Rádio Mayrink Veiga (fundada em 1926), Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (fundada em 1923, atual Rádio MEC) e Rádio Clube do Brasil (fundada em 1924).
 
A propósito, foi a partir do início dos anos 1930 que Tia Amélia passou a conviver com diversos artistas renomados daqueles tempos, tais como: Ary Barroso (1903-1964), Renato Murce (1900-1987), Pixinguinha (1897-1973), Jacob do Bandolim (1918-1969) e Sílvio Caldas (1908-1998). Além do mais, sua interpretação dos gêneros musicais brasileiros foi elogiada por ninguém mais ninguém menos do que Ernesto Nazareth (1863-1934), o “pai” do chorinho. 

 
A Noite, 05 de agosto de 1930, p.05 
Original: http://memoria.bn.br/
Recuperado de: Blog Marcelo Bonavides
 


Ernesto Nazareth aos 69 anos, 21 de abril de 1932.
Fotografia de Nicolas. Coleção Luiz Antonio de Almeida.
Recuperada de: Instituto Moreira Salles (fotos)

 


Ao proceder um resumo da carreira dessa musicista, o pesquisador Robervaldo Linhares Rosa (EMAC/UFG) afirma que Tia Amélia
 
Notabilizou-se como uma intérprete superior de valsas seresteiras e choros saltitantes,
muitas vezes criados por ela mesmo,
que remetem aos grandes mestres da arte pianeira.

(Rosa, 2014, p. 198).
 
 
Tia Amélia, Fernanda Montenegro e Pixinguinha na TV Tupi (sd).
Acervo do Arquivo Nacional (RJ) - Fundo Correio da Manhã.
Foto: reprodução
Arquivo Nacional (twitter.com)
 

 
Como era de se esperar, o distanciamento dos grandes centros culturais do Brasil interrompeu a sequência da exitosa carreira de Tia Amélia. Em Goiânia, por vários anos, limitou-se a ministrar aulas particulares de piano e, por vezes, promover recitais na jovem cidade planejada do Centro-Oeste brasileiro. Aliás, alguns de seus pupilos teriam os seus nomes destacados na música em Goiás. É o caso, por exemplo, das professoras Heloísa Barra Jardim e Maria Augusta Calado, bem como do professor Estercio Marquez Cunha



Tia Amélia (áudio) - Acervo da compositora e professora Neusa França (1920-2016)
Áudio digitalizado pelo Instituto Piano Brasileiro (IPB)
https://www.youtube.com/watch?v=pEH7jPo0Qvo
Tia Amélia interpretando 38 de suas composições em um sarau na
residência de Neusa França e Oswaldo França no Rio de Janeiro,
"Em data desconhecida [c. 1959], dando uma verdadeira aula de virtuosismo e gingado!"


 
Para essa Coluna de Música Clássica do Jornal A Redação, preparei uma concisa biografia da Tia Amélia, levando em conta o que já foi publicado sobre a pianista. Embora sintética, lacônica, será necessário dividi-la em algumas partes. Na sequência desta primeira parte, encontram-se algumas informações referentes às primeiras décadas de vida de Amélia Brandão. 

Em minhas leituras sobre a música goiana, por muitas vezes me deparei com o nome de Amélia Brandão. A propósito, referências à Tia Amélia podem ser encontradas em pelo menos três livros, cujos autores são professores da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG:
 
1) Memória musical de Goiânia (2002) - Braz Wilson Pompeu de Pina Filho;
2) A música e o piano na sociedade goiana... (1999) - Maria Helena Jayme Borges;
3) Como é bom poder tocar um instrumento... (2014) - Robervaldo Linhares Rosa.

 
Capa do livro Como é bom poder tocar um instrumento:
pianeiros na cena urbana brasileira (2014)
Autor: Robervaldo Linhares Rosa

 
Talvez pelo fato de esse tema não estar diretamente relacionado à minha formação original – violinista -, nunca me ocorreu a ideia de aprofundar meus conhecimentos na trajetória artística dessa importante intérprete do piano. Todavia, ao longo dos anos de 2020 e 2021, ao realizar algumas entrevistas (via aplicativo Zoom ou por e-mail), o nome de Tia Amélia surgiu de forma recorrente, como no caso das conversas com Heloísa Barra Jardim e Estercio Marquez Cunha.

Além disso, confesso que um maior interesse na história de vida da Tia Amélia ocorreu no ano de 2020, quando tive o privilégio de passar algumas manhãs conhecendo um pouco do Acervo do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (ICEBE). Naquelas oportunidades, fui extremamente bem recebido pelo Presidente daquela Entidade, o historiador Dr. Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado

Ao observar o material específico sobre música do ICEBE, fiquei deveras interessado em alguns recortes de jornal (mais detalhes nas Referências, ao final da Coluna), cujas matérias registravam alguns momentos importantes da história de vida da “pianeira” Amélia Brandão.

Embora o material encontrado no ICEBE contemple um conjunto de dados biográficos mais abrangentes, pode-se observar que os artigos, em quase sua totalidade, foram publicados em dois importantes momentos históricos: na época que marca o encerramento de sua carreira profissional como instrumentista (1980) e, ainda, nos dias que sucederam ao seu falecimento em Goiânia, em 1983. Também é importante revelar que, em meio à documentação aludida, podem ser lidos trechos de entrevistas realizadas com a própria Tia Amélia, sendo alguns desses excertos reproduzidos a partir de escritos anteriores atribuídos a um jornal carioca: o Última Hora3.
 

A infância de Amélia Brandão em Pernambuco: menina prodígio
 
No confronto das matérias jornalísticas encontradas no ICEBE, percebe-se que alguns de seus autores cometem um equívoco quanto ao ano de nascimento de Amélia Brandão. Sobre essa informação, encontrei, a título de exemplo, menções aos anos 1893 e 1894. Porém, é correto afirmar que Tia Amélia nasceu na cidade de Jaboatão (PE), no dia 25 de maio de 1897. Tal dúvida foi dirimida pelo musicólogo Robervaldo Linhares Rosa, em sua Tese de Doutorado (Como é bom tocar um instrumento...), defendida na Universidade de Brasília (UnB), sob a orientação da Professora Dra. Maria Thereza Negrão Ferraz de Mello, em 2012:
 

Recorte de um documento de identificação: Amélia Brandão (nome de solteira)
O documento (integral) foi apresentado por Gilson P. Borges no livro
Teatro Goiânia: histórias e estórias (2007, p. 54)
 
Em um dos artigos elencados nas Referências (final da Coluna) - Tia Amélia, lição de vida (sd)4 -, seu autor (não identificado), alicerçado em depoimentos de Tia Amélia e de sua filha, Dona Silene, assevera que Amália Brandão era oriunda de uma família de pernambucanos pertencentes à aristocracia da cana-de-açúcar da época. E, para José Renato Assis (1983), em O adeus à Tia Amélia (DM Revista), o pai da pianista era usineiro.
 
Em outro artigo, intitulado Tia Amélia fecha o piano (1981) -, a autora Raquel Ulhôa acrescenta que os pais de Amélia Brandão também eram músicos. Esta informação é corroborada por Rosa (2014, p. 199). Para esse pesquisador, o pai de Amélia Brandão, o Sr. João Pereira Brandão, além de tocar clarineta, foi professor de música e maestro de uma banda em Jaboatão. Já a mãe, Sra. Joana da Cunha Brandão, era pianista.
 
Ao que parece, até mesmo o pai de Amélia Brandão foi pianista. É o que se pode captar em dois artigos, os quais, ao que tudo indica, foram apoiados em declarações daquela artista ao Jornal Última Hora, em 1977: 1) E os dedos de Tia Amélia não tocam mais a alma do chorinho (Brasigóis Felício, O Popular, 20/10/1983); 2) Aos 90 anos, morre Tia Amália Brandão (19/10/1983, sem maiores informações). Utilizando o segundo deles como direção, temos:
 
Na verdade (...), “na minha casa podia faltar comida, mas piano não. Toda a minha família tocava, meu pai, minha mãe, minhas irmãs e minhas primas [e tias, na versão de Brasigóis Felício]. Fui criada no meio da música. Toda a família tocava bem, mas eu toquei melhor. [Talento? Eles achavam que eu não tinha, [adiciona Brasigóis Felício]” - declarou ela, em 6/6/1981 a O Popular.  (Tia Amélia).
 
A valer, por volta dos quatro anos de idade (c. 1901), em seu entendimento, Amélia Brandão já tocava piano. Isto é, se aventurava a tirar as primeiras melodias no instrumento de sua casa, entretanto, sem uma orientação formal. Naturalmente que o interesse da pequena Amélia pela música foi motivado “pelo ambiente artístico de sua casa” (Ulhôa, 1981), ou seja, aquela criança “cresceu em meio a saraus e apresentações familiares” (Assis, 1983). 
 
Seja como for, a ideia de providenciar um(a) professor(a) para Amélia Brandão surgiu quando, “aos seis anos, seu pai (...), de repente, viu-a tocando piano de ouvido” (Ulhôa, 1981). É a própria Tia Amélia, em depoimento ao Jornal Última Hora, que esclarece a situação real daquele momento: 
 
Quando eu comecei, não entendia nada, só fui começar a estudar aos seis anos.
(Artigo: Tia Amélia, lição de vida, c. 1977).
 


Formação musical rigorosa
 
Conforme destaca o professor Robervaldo Linhares Rosa, fundamentado em uma entrevista concedida a ele, em 09/08/2011, pela neta de Amélia Brandão - Regina Andrade Mascarenhas: 
 
Tia Amélia era obrigada [pelo pai] a estudar somente os compositores clássicos.
(Rosa, 2014, p. 199).
 
Confiando nas informações fornecidas por José Renato Assis, infere-se que a pianista Amélia Brandão, ainda bem jovem - aos nove anos de idade -, já teria questionado “os ensinamentos da [primeira*] mestra - a prima Amélia Romano Brandão” [discípula do Prof. Seixas e do compositor Misael Domingues] . Nesse sentido, conquanto não faça referência ao nome da professora, Tia Amélia faz a seguinte revelação:
 
Eu era jeitosa, até que um dia virei para o meu pai e disse:
essa professora que eu tenho não me serve, preciso de uma professora melhor.
Comecei a combater até que mudei de professor. 
(Tia Amélia apud Felício, 1983).
 
* Amélia Brandão também estudou piano com o professor José Lourenço da Silva (Revista Phono-Arte, 1930).


Do texto escrito por José Renato Assis, conclui-se que Amélia Brandão não estava satisfeita por estudar um repertório da escola tradicional de piano. Salienta o autor: “não era bem o que Amélia queria”. Foi nesse contexto que, por volta dos 13 anos de idade, a pianista pernambucana passou a se dedicar também ao estudo das obras do inesquecível Ernesto Nazareth. Por fim, “descobriu que preferia os temas folclóricos e populares” (Assis, 1983).
 
Sobre esse tema, e adiantando um pouco a sequência dos acontecimentos, uma citação do autor Gilson P. Borges, encontrada no livro Como é bom poder tocar um instrumento - pianeiros na cena urbana brasileira, do pesquisador Robervaldo Linhares Rosa, é definitiva:
 
O primeiro gênero que eu segui foi o clássico, porque eu sou bem do clássico.
Depois passei a folclorista, [de] folclorista a sambista e,
quando eu me passei para o choro,
foi depois da morte de Ernesto Nazareth [1863-1934].
Ele morreu: eu tomei conta”. 
(Amélia Brandão apud Rosa, 2014, p. 199).

O preconceito e os estudos de piano em Portugal
 
Em Tia Amélia, lição de vida (c.1977), o autor ressalta que “na vida da Tia Amélia, o início de tudo não foi muito fácil, apesar de nunca ter sido um empecilho para nada”. É consenso entre os historiadores o fato de que esta musicista teria sido criada em um ambiente de muito rigor. 
 
No tocante a essa fase da vida da jovem pianista, o pesquisador Robervaldo Linhasres Rosa, citando o autor Gilson Borges (2007), relata que Amélia Brandão, certa feita, teria se expressado da seguinte forma:
 
Eu pertenço a uma época de muito rigor. Os pais muito rigorosos e, principalmente, a minha família, que não me deixava ser artista. Sofri muito. Muito e muito mesmo. Eu não tive liberdade. Nem sequer para fazer arte (...). Queriam ter uma pianista dentro de casa, me mandaram estudar na Europa. Eu estudei, voltei e fiquei incubada. Não me apresentava em parte alguma. Foi um sofrimento para mim. (Amélia Brandão apud G. Borges, 2007, p. 55).
 
A respeito da passagem de Amélia Brandão pela Europa, percebe-se, após análise do material impresso elencado no final desta Coluna, que há consonância quanto à decisão, por parte dos pais, de enviar a Portugal, a então pianista adolescente “rebelde”. Oficialmente, tratava-se de oportunizar a melhor prossecução de seus estudos musicais. Nesse seguimento, Ulhôa (1981) é a única autora que faz menção ao tempo de permanência de Tia Amélia em terras lusitanas, sugerindo o tempo de 11 meses de aperfeiçoamento. Outrossim, em sua publicação, o investigador Rosa (2014, p. 199) frisa que, em Lisboa, o aprendizado da jovem pianista pernambucana continuou pautado no repertório clássico.
 
Devo explicitar, no entanto, que, ao chegar a esse ponto da pesquisa, esbarrei-me em uma nova discrepância verificada entre as informações biográficas disponibilizadas pelos autores consultados, desta feita, sobre o tema abordado no parágrafo anterior. Nessa trilha, Assis (1983), sugere que Amélia Brandão “a fim de aperfeiçoar-se nas técnicas de piano, aos 17 anos foi para Portugal”. O pesquisador Robervaldo Linhares Rosa, por sua vez, não crava um ano específico alusivo à partida da pianista pernambucana rumo à Europa. Na realidade, esse professor (EMAC/UFG) se limita a dizer que Tia Amélia “se diplomou, aos 15 anos, no velho continente, em Lisboa”.
 
Arrematando tal tópico iniciado pelo aspecto do rigor como Amélia Brandão foi criada, é preciso ter em mente que o Brasil daquele tempo, via de regra, é caracterizado pela existência de uma sociedade brasileira de caráter patriarcal. Nesse cenário, costuma-se dizer que as atividades musicais (amadoras ou profissionais) exercidas por artistas do sexo feminino eram, efetivamente, limitadas. Em geral, para as mulheres “prendadas”, esse ofício raramente extrapolava o ambiente doméstico: apresentações e aulas particulares. E, por vezes, eram toleradas a participação de moças de família em saraus realizados nos salões aristocráticos, bem como de outros espaços sociais mais restritos (colégios, teatros, clubes etc.).

 
O casamento: continua o preconceito
 
Assim que voltou de Portugal, por influência do pai, Amélia casou-se “com um industrial do açúcar” (Assis, 1983). Ou seja, foi um casamento “arranjado”. Da parte inicial do artigo de jornal alcunhado por Tia Amélia, lição de vida (c.1977, autor não identificado4), foi retirada a fotografia abaixo, em cuja legenda se lê: “Amélia Brandão em 1915, quando se casou”. 
 
Amélia Brandão (1915) - Recorte de O Popular (c. 1977) - Acervo: ICEBE
 
 
É relevante confessar que, inicialmente, não consegui descobrir o nome do noivo de Amélia Brandão. Mas, depois, um recorte de jornal encontrado no Blog de Marcelo Bonavides acabou solucionando o mistério: José Ignácio Nery.
Sabe-se, confiando nas palavras constantes do texto Tia Amélia, lição de vida4 (c. 1977), grafadas, supostamente, a partir de relatos feitos pela filha de Amélia Brandão - Dona Silene, que o marido da pianista, “apesar de educado na Europa, também conservava os preconceitos e tradições da família (...)”.
 


A Província (PE), 14 de agosto de 1921, p.03
Original: http://memoria.bn.br/
Recuperado de: Blog Marcelo Bonavides


Seguem abaixo outras citações com o mesmo teor do excerto anterior. Na primeira delas, documentada originalmente no livro Teatro Goiânia: histórias e estórias, de Gilson P. Borges, e, secundada por Robervaldo Linhares Rosa em Como é bom poder tocar um instrumento - pianeiros na cena urbana brasileira, lê-se:
 
Depois que eu casei [aos 17 anos], achei que eu ia ter a vida que sonhei. 
Mas foi o contrário: meu marido continuou severo como minha família.
(Palavras atribuídas à Tia Amélia apud Borges, 2007, p. 55).
 
Um pouco antes de recorrer à citação supra, o professor Robervaldo Linhares Rosa registrou sua própria contribuição:
 
Com o seu casamento, aos 17 anos, já de volta a Pernambuco, [Amélia Brandão] teve que, forçosamente, interromper a carreira de pianista, visto que seu marido não lhe permitia que fosse artista. Tia Amélia nasceu exatamente meio século após Chiquinha Gonzaga e, como se vê, parece que quase nada mudara no que diz respeito à moral machista. (Rosa, 2014, p. 199; grifo nosso).
 
Outro autor que se ocupa em retratar aquele momento da vida de Amélia Brandão é o articulista João Perassolo, autor do texto Saiba quem foi Tia Amélia, sucessora de Chiquinha Gonzaga na história do piano, publicado no ano de 2021, em pelo menos três veículos da mídia nacional: Diário do Nordeste, O Tempo e Folha de São Paulo. Conforme suas palavras, o marido de Amélia Brandão “costumava dizer que o piano era só para balançar os filhos que iam nascer”.


 
Chiquinha Gonzaga (1847-1935) em 1877
Fonte: Chiquinha Gonzaga, uma história de vida - Edinha Diniz, Editora Zahar, 2009.
Foto encontrada no site: chiquinhagonzaga.com


 
A prole de Amélia Brandão
 
Existem incongruências entre o conteúdo das fontes consultadas no que diz respeito a mais duas informações biográficas referentes à Tia Amélia: 1) O local escolhido pelo casal para fixar residência e constituir uma nova família; 2) quantidade de filhos do casal. 
 
No primeiro caso, o autor do artigo Tia Amélia, lição de vida4 (c. 1977), afirma que “depois de casada, [Tia Amélia] continuou a morar na fazenda dos pais: Engenho Jardim”. Todavia, na versão apresentada por Semira Adler Vainsencher, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco - vinculada ao Ministério da Educação, apreende-se que “aos dezessete anos, ela [Amélia] se casou com um rico fazendeiro escolhido por seu pai, deixou o Engenho Jardim, em Moreno, e foi morar em Jaboatão, na fazenda do sogro”. No encadeamento dos dados apresentados em seu blog, Semira Vainsencher acrescenta que o sogro de Amélia Brandão faleceu dois anos após o matrimônio do filho. Porém, o que vem a seguir, chama a atenção:
 
De maneira desregrada, [o marido de Amélia] dissipou toda a herança recebida. Tamanho foi o acúmulo de dívidas que, dentro de pouco tempo, o engenho e a fazenda tiveram de ser vendidos. Após a perda total dos bens, o marido de Amélia não resistiu, e morreu vitimado por um colapso, deixando-a viúva aos vinte anos de idade e com quatro [?] filhos pequenos para criar. Desesperada e sem recursos para sustentá-los, ela passou por muitas privações, e chegou ao ponto de vender o próprio piano para alimentar a família. (Vainsencher).
 
Dois aspectos apresentados na citação supra, no entanto, suscitam mais duas dúvidas em relação à biografia de Tia Amélia. Em primeiro lugar, quanto à sua descendência, percebe-se que, para Vainsencher, seriam quatro filhos. Em contrapartida, em um recorte de jornal - título: Aos 90 anos, morre Tia Amélia (1983) -, dentre aqueles examinadas no Acervo do ICEBE, o autor deixa grafado: “Tia Amélia teve três filhos, dos quais Dirceu e Clóvis da Câmara Neri já faleceram”. Relembrando, o nome de sua filha é Silene de Andrade. 
 
Silene Brandão Nery
Diário da Manhã (PE), 1935
Original: http://www.acervocepe.com.br/
Recuperado de: Blog Marcelo Bonavides

 
Em segundo lugar, todos os textos lidos visando a elaboração desse escrito, à exceção de um, seus autores afirmam que Tia Amélia teria ficado viúva aos 25 anos. Episódio que teria facilitado seu ingresso na carreira artística profissional. (Assunto da próxima coluna).

Entretanto, o já referido articulista João Perassolo, em seu texto Saiba quem foi Tia Amélia, sucessora de Chiquinha Gonzaga na história do piano, curiosamente defende a tese de que, na realidade, Amélia Brandão não teria ficado viúva. 
 
Amélia Brandão em 1926 
Recorte de O Popular (20/10/1983)
Acervo: ICEBE
 


A suspeição sobre a informação da viuvez de Tia Amélia
 
Em sua exposição, João Perassolo chama a atenção para o fato de que, atualmente, a vida e obra de Amélia Brandão passam por um grande processo de resgate. Nesse cenário, o articulista cita a pesquisa de Jeanne de Castro que visa, justamente, escrever em livro uma biografia daquela que é “considerada a sucessora de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, os grandes nomes do piano nacional da virada do século 19 para o 20”. Ainda para Perassolo, o projeto da biógrafa Jeanne de Castro teve como ponto de partida o lançamento do disco Tia Amélia para sempre lançado em 2020, pelo pianista e pesquisador Hercules Gomes. Nesse registro fonográfico, o pianista interpreta 14 composições de Amélia Brandão.
 

Capa do CD Tia Amélia para sempre
Pianista: Hercules Gomes
 
 
Mas, se Amélia Brandão não ficou viúva, o que, de fato, aconteceu? Justificando a suspeição sobre a versão amplamente divulgada, João Perassolo versa em seu aludido artigo:
 
Decidida a se dedicar ao instrumento, aos 25 anos Amélia Brandão Nery fugiu da fazenda onde morava com o marido, no interior de Pernambuco, e se instalou em Recife com os filhos, conta Maria José Sampaio, mulher do último sobrinho vivo da pianista. Era o início da década de 1920. Nos anos seguintes, Tia Amélia se tornaria uma das principais pianistas brasileiras. (Perassolo).
 
Mais adiante, Perassolo, citando o nome da biógrafa Jeanne de Castro, conclui:

Depois de abandonar o marido, Tia Amélia passou a dizer que era viúva e a não mais mencionar o nome dele. Traumatizada com a relação, ela nunca mais se casou e não gostava de tocar no assunto, diz a biógrafa. ‘Ela não se dizia feminista, mas ela era’, afirma. (Perassolo).
 
Seja como for, finalizo essa parte da minha pesquisa com uma ponderação proposta por Brasigóis Felício em seu artigo de jornal intitulado E os dedos de Tia Amélia não tocam mais a alma do chorinho. Em síntese, diz o autor: “para superar os preconceitos de sua época de jovem, Tia Amélia teve que demonstrar a força de sua personalidade”. (Felício, 1983).


Parte 2: A pianeira Tia Amélia: uma legítima herdeira de Chiquinha Gonzaga (23/08/2021);
Parte 3: Tia Amélia: “O choro é imortal, bonito e brasileiro” (13/10/2021).


 
Amélia Brandão em 1931
Recorte de O Popular (20/10/1983)
Acervo: ICEBE

 
 

Disco A Bênção, Tia Amélia (Tia Amélia)
Seu último disco lançado foi pelo selo Marcus Pereira, o LP “A Benção Tia Amélia” quando já tinha 83 anos.
(Hércules Gomes - http://www.herculesgomes.com.br/tia-amelia/)
Fonte: Perfil Música Boa (Youtube)

01. CHORO SERENATA
02. MOSQUITA - 2:24
03. CHORO PARA MINHA FILHA - 8:15
04. PARABÉNS PARA VOCÊ, ZÉ - 11:46
05. MAESTRISSÍMO - 15.09
06. BILHETE PARA ARNALDO REBELLO - 16:51
07. CONVERSANDO COM MINHA IRMÃ - 22:23
08. MEDALHA COM G - 27:14
09. CHORO PARA FERNANDA - 30:45
10. MARIA ALICE - 33:10
11. PENAZZIANDO - 36:30
12. PARA MEUS NETOS, BISNETOS E TETRANETA - 39:40




Amélia Brandão em 1932
Fonte: Instituto Piano Brasileiro



NOTAS:

1) No trecho inicial da descrição do vocábulo “Pianeiro”, oferecido pela Enciclopédia da Música Brasileira; popular, erudita e folclórica, publicada pela Publifolha (2000, p. 625), temos: “Pianista popular que tinha por profissão tocar em cinemas e nas festas familiares - bailes, casamentos (...) - do começo do século [XX]. Outras vezes, era, ele próprio, um compositor conhecido e estimado nos meios musicais (...)”. Complementa o Prof. Robervaldo Linhares Rosa (UFG), em seu livro Como é bom poder tocar um instrumento - pianeiros na cena urbana brasileira (2014) “ (...) casas de música e de instrumentos (executavam as peças escolhidas pelos clientes, auxiliando-os na compra das partituras), restaurantes, bares, confeitarias, academias e ou escolas de danças de salão, e, posteriormente, já no início do século XX, salas de cinema (tanto as de espera, como as de exibição do filme mudo, para o qual eles interpretavam a trilha sonora ao piano), enfim, uma ampla gama de espaços urbanos dedicados ao entretenimento (...)”. Claro, para um bom entendimento do termo “Pianeiro”, seria necessário viajar pelos contextos histórico, social e cultural, inicialmente, da sociedade carioca, ainda nos anos “Novecentos”. Nesse sentido, Rosa (2014) salienta que “a intensificação da vida social e urbana ocorrida durante toda a segunda metade do século XIX”, somada “à formação de uma incipiente música popular feita para o entretenimento dos urbanistas, estabeleceu-se um nicho no campo musical”. Por outro lado, ”a demanda por um profissional que executasse ao piano música popular voltada ao lazer, não podia ser atendida pelas moças ‘bem-nascidas’ [e prendadas] da sociedade - que, necessariamente, tocavam o instrumento, mas quase exclusivamente no espaço doméstico - nem pelos pianistas de repertório clássico-romântico. Tal conjuntura contribuiu, de forma decisiva, para que surgisse um novo profissional: o pianeiro”. 


2) VASP (Viação Aérea São Paulo) fundada em 1933, foi uma das maiores companhias aéreas brasileiras. Teve sua falência decretada na primeira década dos anos 2000.

3) O Jornal Última Hora foi criado pelo jornalista Samuel Wainer. Começou a circular, inicialmente no Rio de Janeiro, no dia 12/06/1951. Encerrou suas atividades em 1991. Mais detalhes no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo. 
Jornal Última Hora: http://icaatom.arquivoestado.sp.gov.br/ica-atom/index.php/jornal-ultima-hora-2;isad

4) Não foi possível identificar o nome do autor de Tia Amélia, lição de vida. É importante mencionar, entretanto, que seu artigo foi elaborado a partir de um depoimento concedido por Dona Silene Andrade (filha de Amélia Brandão). Ademais, o texto explora partes de uma entrevista concedida pela própria Tia Amélia, em data anterior (também não mencionada) à repórter Miriam Camargo do Jornal Última Hora. Uma frase encontrada no início da matéria: “No último mês de março, segundo contou ao jornal Última Hora, Tia Amélia realizou uma apresentação (...)”. No entanto, é pertinente mencionar que Brasigóis Felício, em seu artigo E os dedos de Tia Amélia não tocam mais a alma do chorinho (O Popular, 20/10/1983) traz a seguinte revelação: “Em 1977, quando concedeu esta entrevista ao jornal Última Hora, Tia Amélia disse: “Eu não estou pensando em parar não”. Deduz-se, assim, que o artigo Tia Amélia, lição de vida foi veiculado no ano de 1977.
 
 
 
REFERÊNCIAS (livros e trabalho acadêmico)
 
Borges, Gilson P. (2007). Teatro Goiânia: história e estórias. Goiânia: Ed. UCG.
 
Borges, Maria Helena Jayme. (1999). A música e o piano na sociedade goiana (1805-1972). Goiânia: Funarte.
 
Pianeiro. (n.d.). In Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica (3ª ed.). (2000). São Paulo: Art Editora, Publifolha.
 
Pina Filho, Braz Wilson Pompeu de. (2002). Memória musical de Goiânia. Goiânia: Kelps.
 
Rosa, Robervaldo Linhares. (2014). Como é bom poder tocar um instrumento - pianeiros na cena urbana brasileira. Goiânia: Cânone Editorial.
 
Rosa, Robervaldo Linhares. (2014). Como é bom poder tocar um instrumento: presença dos pianeiros na cena urbana brasileira - dos anos 50 do Império aos 60 da república (Tese de Doutorado, Departamento de História da Universidade de Brasília - UnB).
 

REFERÊNCIAS (recortes de jornal - Acervo: ICEBE)
 
Assis, José Renato. (1983, Outubro 20). O adeus a Tia Amélia. Diário da Manhã (DM Revista), p. 23.
 
Bezerra, Valbene. (1989, Outubro 11). Estampas e sarau para Tia Amélia. O Popular (Caderno 2).
 
Felício, Brasigóis. (1983, Outubro 20). E os dedos de Tia Amélia não tocam mais a alma do chorinho. O Popular (Caderno 2).
 
Ribeiro, Pedro Autran. (1983, Outubro 21). A tristeza por Tia Amélia e a torcida por Lúcio Alves. Agência Estado.
 
Ulhôa, Raquel. (1981, Junho 07). Tia Amélia fecha o piano. Diário da Manhã, p. 43.
 
Aos 90 anos, morre Tia Amélia Brandão - autor não identificado. (1983, Outubro 19). Jornal não identificado.
 
Tia Amélia, lição de vida - autor não identificado. (c. 1977). O Popular (Caderno 2).

 
REFERÊNCIAS (sites/blogs)

Blog Jeanne de Castro Produções - https://www.jeannedecastro.com.br/sobre?lang=pt 

Bonavides, Marcelo. (2021, Maio 25). Relembrando Amélia Brandão Nery, a Tia Amélia. Arquivo Marcelo Bonavides: Estrelas que nunca se apagam. 
Recuperado de https://www.marcelobonavides.com/2012/10/amelia-brandao-nery-tia-amelia-29-anos.html

Bonavides, Marcelo. (2019, Janeiro 2). Recital de Amélia Brandão Nery - a música do Norte (1930). Arquivo Marcelo Bonavides: Estrelas que nunca se apagam. 
Recuperado de https://www.marcelobonavides.com/2019/01/recital-de-amelia-brandao-nery-musica.html 

Perassolo, João. (2021, Fevereiro 14). Saiba quem foi Tia Amélia, sucessora de Chiquinha Gonzaga na história do piano. Folha de São Paulo (Provedor UOL).
Recuperado de https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/02/saiba-quem-foi-tia-amelia-sucessora-de-chiquinha-gonzaga-na-historia-do-piano.shtml
 
Vainsencher, Semira Adler. (s. d.). Amélia Brandão [Web postagem].
Recuperado de http://www.caestamosnos.org/pesquisas_Semira/pesquisa_semira_adler_Amelia_Brandao.htm 

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Na cadência dos dedos de Tia Amélia se compôs um capítulo seminal da presença da mulher na música brasileira. (2020, Abril 30). Mãos que Dançam, Sesc, São Paulo.
Recuperado de https://www.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/14180_MAOS+QUE+DANCAM 

Pianista Hércules Gomes recupera a obra de Tia Amélia: Músicas da compositora pernambucana estão no recém-lançado álbum “Tia Amélia para Sempre”. (2020, Fevereiro 07). Jornal da USP.
Recuperado de https://jornal.usp.br/cultura/pianista-hercules-gomes-recupera-a-obra-de-tia-amelia/ 

Tia Amélia. (s.d.). Instituto Piano Brasileiro.
Recuperado de http://institutopianobrasileiro.com.br/images/view/1015





Theatro Lyrico do Rio de Janeiro (1930)
 D. Amelia Brandão Nery ao centro,
ladeada por Stefana de Macedo (direita) e Jesy Barbosa (esquerda).
Ao lado de Stefana: Vicente Cunha (cantor)
Revista Phono-Arte, 30 de agosto de 1930, nº 46.
Fonte: Blog Marcelo Bonavides - Arquivo Nirez

 
 
Foto publicada no Blog Marcelo Bonavides - Arquivo Nirez
Legenda original: Revista Phono-Arte, 30 de agosto de 1930, nº 46.
 "D. Amelia Brandão Nery ao centro, ladeada por Stefana de Macedo (direita) e Jesy Barbosa (esquerda).
Ao lado de Stefana vemos Vicente Cunha, o excellente cantor nortista”.



Pianeira Amélia Brandão (s.d.)
Fonte: Instituto Moreira Salles
Áudios de composições de Tia Amélia: Instituto Moreira Salles
 



Jacob do Bandolim e Tia Amélia
Fonte: jacobdobandolim.com.br


 

LP Recordações de Tia Amélia (RCA Victor, 1961)
Fonte: Instituto Piano Brasileiro
"Em todas as faixas, Tia Amélia ao piano, com acompanhamento de orquestra não-identificada"
 
01. Tia Amélia - Cuíca no chiro
02. Anônimo - Saudades de Ouro Preto (arr. Mozart Brandão)
03. Tia Amélia - Para vocês sobrinhos
04. Eustórgio Wanderley e J. Batista - Cruel separação
05. Tia Amélia - Bom dia Radamés Gnattali
06. Frealdo Maga e Raul Pimpolho - Jupe-Culotte
07. Jorge Galatti e Raul Torres - Saudades de Matão
08. Tia Amélia - Choro, eu te adoro
09. Arnaldo Rebello - Valsa amazônica No.4 "Coração de ouro"
10. Tia Amélia - Elisa Maria
11. Alfredo Gama - Nicinha
12. Alfredo Gama- A bordo

 


Bordões ao luar, de Tia Amélia, interpretado pela compositora.
Fonte: Instituto Piano Brasileiro



Parte 2: 
A pianeira Tia Amélia: uma legítima herdeira de Chiquinha Gonzaga (23/08/2021);
Parte 3: Tia Amélia: “O choro é imortal, bonito e brasileiro” (13/10/2021).

Comentários

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  • 17.08.2021 16:25 MARSHAL GAIOSO PINTO

    Texto interessantíssimo!

  • 10.08.2021 00:11 Andréa Luísa Teixeira

    Excelente matéria! Parabéns!

Sobre o Colunista

Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

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