Para adicionar atalho: no Google Chrome, toque no ícone de três pontos, no canto superior direito da tela, e clique em "Adicionar à tela inicial". Finalize clicando em adicionar.
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
Gabriel Leone como Ayrton Senna e Matt Mella ao fundo como Alain Prost (Foto: divulgação)Estreou na Netflix a minissérie Senna, que reconta a vida e a carreira do lendário piloto Ayrton Senna da Silva, tricampeão mundial de Fórmula 1, morto em maio de 1994 em um acidente na Itália. A minissérie possui pontos fortíssimos, derrapa em outros, mas permanece diversão garantida para toda a família, principalmente para quem já conhece a trajetória do atleta.
A produção sobe no pódio com tranquilidade nos quesitos técnicos. É sem dúvida a maior produção brasileira, com efeitos especiais, caracterização, cenografia e direção de arte que ficam no mesmo patamar de grandes produções gringas e por uma fração do orçamento. As réplicas dos carros, dos autódromos e as sequências reproduzindo as próprias corridas são o grande destaque: belíssimas, bem filmadas e bem montadas.
O elenco também larga na frente: Gabriel Leone vive Senna de corpo e alma e carrega com carisma a responsabilidade não só de protagonista, mas de interpretar alguém tão querido. O elenco de apoio não fica atrás, principalmente Marco Ricca como Miltão, pai do piloto, e Susana Ribeiro como Dona Neyde, mãe de Senna.
O elenco internacional não fica para trás, e dois se destacam: Kaya Scodelario, fazendo seu primeiro papel em português como a repórter Laura, e Matt Mella, que atua como um excelente antagonista na pele do rival francês, Alain Prost.
Já o ponto mais fraco da série emana do fato de que ela foi produzida e sancionada pela família Senna: qualquer ranhura, defeito ou problema na vida do piloto acabou minimizado ou removido inteiramente, como a quase completa remoção de Adriane Galisteu e a ausência do seu catolicismo fervoroso. O resultado é um retrato problemático e tão higienizado que Senna fica num pedestal ainda maior, praticamente um santo.
Outro problema que contribui para isso é a tendência quase cômica da série de descambar para o melodrama autocongratulatório com roteiro e cenas que parecem ter saído diretamente da novela das 8 ou de uma propaganda de margarina. Ser emocionante e brincar com isso é esperado, mas a minissérie vai além: é açucarado o suficiente para causar diabetes até entre os mais resistentes.
Isso resulta em alguns diálogos e interações extremamente caricatos, cenas em câmera lenta com temas orquestrados altos e enquadramentos de pôr-do-sol oníricos. É a forma de avisar a audiência que este piloto é ainda mais mítico do que você se lembra.
No fim, é um pipocão: é uma minissérie divertida e envolvente com elenco forte e ótimas cenas de ação, mas que abre mão de poder ser maior, um verdadeiro sucesso internacional, em prol de ser apenas mais um louvor a uma figura já beatificada.