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José Abrão
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José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br

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‘Coração de Lutador’ conta uma boa história mantendo os pés no chão

| 16.10.25 - 09:26 ‘Coração de Lutador’ conta uma boa história mantendo os pés no chão The Rock caracterizado como Mark Kerr (Foto: divulgação)
Filmes de esporte e, em particular, filmes de lutadores tendem a ser grandiloquentes por natureza, perdendo a mão facilmente em suas tramas de superação e vitórias impossíveis. Não em Coração de Lutador. O filme parece deliberadamente trazer um olhar distante, quase jornalístico, sobre seus personagens, eles mesmos, na maior parte do tempo, alheios às próprias emoções, com seus defeitos expostos para a audiência.
 
“Menos é mais” costuma ser uma regra de ouro em vários aspectos da vida, e isso também pode valer para o cinema, algo que já foi captado por grandes cineastas. Fassbinder está entre os diretores que afirmaram que histórias simples são as mais verdadeiras. É dessa fonte que Benny Safdie bebe para narrar uma história envolvente e contida sobre Mark Kerr, um dos lutadores pioneiros do MMA.
 
Seu ponto mais forte é ser uma narrativa essencialista, enxuta, focada, pá-pum. A trama é baseada em acontecimentos reais na vida do lutador entre os anos de 1997 e 2000, em que ele enfrenta seu primeiro grande desafio profissional, problemas pessoais, fantasmas internos emocionais e um vício debilitante. Há uma grande preocupação durante a trama sobre até quando esse homem enorme, de 115 kg, vai aguentar, conseguindo manter sua fala gentil sem se descolar completamente da realidade.
 
E mesmo contido, o filme contém grandes sonhos: negá-lo como um chamado “Oscar bait” é perda de tempo. Esta é a primeira vez que Benny Safdie assume sozinho a cadeira de diretor, tendo dirigido com seu irmão, Joshua, Só Deus Sabe (2014), Bom Comportamento (2017) e Joias Brutas (2019), sendo que só esse último rompeu a bolha. Há algo do diretor aqui em se provar como cineasta. O diretor também assina a edição e o roteiro.
 
Mas a aposta maior certamente é de Dwayne “The Rock” Johnson. O ex-lutador da WWE e ator há mais de duas décadas está totalmente comprometido no papel principal de Mark Kerr com um objetivo muito claro e bem definido: se provar como um ator dramático sólido e silenciar os críticos que há anos apontam as falhas em sua atuação travada e em seus papéis repetitivos e intercambiáveis.
 
Dá pra dizer que ambos conseguiram o que queriam: o filme venceu o Leão de Prata no Festival de Veneza e a atuação de Johnson arrancou elogios de Christopher Nolan. Mas devo dizer pra você conter o seu entusiasmo: o filme é muito bom por ser muito bem conduzido e planejado, mas não é a segunda vinda de Cristo e certamente não corre riscos, com exceção talvez do seu clímax, que foge um pouquinho do convencional.
 
O ponto alto, sem dúvida, é a atuação e caracterização de Johnson como Kerr e sua abordagem de “gigante gentil, mas sofrendo” atribuída ao personagem. The Rock usa seu ponto fraco de ser “travado” a seu favor, transformando no estoicismo característico de um homem duro que tenta manter uma cara plácida ao mesmo tempo em que tenta sufocar uma tormenta interna. As chances de cavar uma indicação ao Oscar são boas.
 
O outro destaque no elenco naturalmente é Emily Blunt como Dawn, namorada de Kerr, quase irreconhecível em uma caracterização excelente e sotaque impecável de white trash sulista americana. A personagem tem as emoções à flor da pele, um contraponto perfeito para a natureza tentativamente pétrea do namorado e que naturalmente gera óbvias falhas de comunicação, mal-entendidos terríveis e brigas tempestuosas.
 
Coração de Lutador é quase um anti-Rocky, mantendo sua história focada, pequena e sem dramalhão. Os pés firmes no chão e a narrativa contida permitem contar uma história engajante sem cair nas armadilhas do melodrama.


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