Jales Naves
Especial para AR
Goiânia - Se uma obra não é reeditada fica esquecida. Para evitar essa situação, o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado quer firmar parceria com a Secretaria da Educação do Estado para produzir livros do escritor e sua distribuição às escolas públicas goianas, como ferramenta para estimular a leitura e a discussão das suas obras.
O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (7/11), no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, pelo presidente do Icebe, Nilson Jaime, ao empossar cinco novos membros do Instituto. Defendeu ser necessário editar e reeditar obras para manter vivo o interesse pelo autor e favorecer o conhecimento de seu trabalho.
Recentemente, o Icebe editou e distribuiu, em escolas, em parceria com o Sicoob UniCentro Br, o conto “A enxada”, de Bernardo Élis – que narra o percurso de um trabalhador rural, Supriano, à procura de seu instrumento de trabalho, a enxada, que permanece inacessível ao personagem até a última palavra do conto.
A sessão teve como mestre de cerimônia a professora Aline Santana Lôbo, presidente da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música. Na mesa diretora, as presenças dos presidentes do Icebe, da Associação Goiana de Imprensa, Valterli Leite Guedes, do IHGG, Jales Mendonça e da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Andréa Luísa Teixeira; do escritor Geraldo Coelho Vaz; do assessor do vice-governador Daniel Vilela, Haroldo Naves; do ex-governador Irapuan Costa Júnior; dos ex-presidentes da Academia Goiana de Letras, Leda Selma, da União Brasileira de Escritores de Goiás, Kleber Adorno, e da Academia Goianiense de Letras, Emílio Brasileiro; dos ex-deputados federais Tarzan de Castro e Vilmar Rocha; Danubia Azevedo, representando o Presidente da Assembleia Legislativa do Estado; e escritor Itami Campos.
Logo após, apresentação musical, com a flautista Andréa Teixeira e o violonista Felipe Veloz, que tocaram “Noites Goianas”, do poeta Joaquim Bonifácio e do compositor Joaquim Santana; e “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, dentre outras; e Raimundo Nonato.
A escritora Ana Kelly Ferreira Souto Pinto foi empossada e passa a ocupar a Cadeira nº 1. (Foto: Divulgação)
Foram empossados a escritora Ana Kelly Ferreira Souto Pinto na Cadeira nº 1, que tem como patrono José Augusto Curado e primeira titular Maria Carmelita Fleury Curado (in memoriam); o editor Leandro Almeida, na Cadeira nº 113, patrono Antônio Almeida; professor Rosivaldo Pereira de Almeida na Cadeira nº 114, patrono Antônio Cândido; Waldirene Aparecida Curado, na Cadeira nº 115, patrono Antônio Poteiro; e Aline de Fátima Marques, na Cadeira nº 116, patrona Ana Braga.
Literatura universal
Em seu pronunciamento, falando em nome dos novos sócios titulares, Ana Kelly ressaltou que o Icebe nasceu “para preservar, difundir e fortalecer o patrimônio cultural e educacional dos povos do Cerrado – esse território de raízes profundas, onde a vida resiste e renasce como a flor do Cerrado, que brota depois das queimadas”.
“O alcance da obra de Bernardo Élis vai além das fronteiras regionais: sua literatura é universal, porque toca o que há de mais essencial na condição humana – a luta, a dignidade e a beleza que habitam os gestos cotidianos”, afirmou. “É nesse ponto que reside sua grandiosidade: falar de um lugar e, ao mesmo tempo, falar de todos os lugares. O Icebe é a prova de que o saber, quando firmemente enraizado na cultura, atravessa o tempo e dialoga com o mundo”.
“Bernardo Élis – o escritor das veredas, dos rios e dos homens simples – ensinou-nos que o Cerrado fala, e que a cultura é uma forma delicada de escuta. Por sua vez, Maria Carmelita Fleury Curado traduziu essa escuta em ação: fez da literatura instrumento de educação e um ato de amor ao povo goiano e à memória de seu esposo”, destacou.
Como frisou, assumir essa cadeira “é herdar uma história e ao mesmo tempo uma missão: educar, preservar e semear novos horizontes pela cultura”. “Cada novo titular que hoje ingressa traz consigo uma semente de conhecimento e de compromisso. Juntas, essas sementes formam um campo fértil de ideias e ações de onde nascem o pensamento crítico e o espírito literário, sustentados pelo compromisso com a educação e a cultura do nosso povo”, completou.
Em sua mensagem, frisou que as nações que compreendem o valor da cultura não a tratam como ornamento, mas como parte essencial do desenvolvimento. “A cultura gera valores que o mercado não é capaz de medir, mas sem os quais nenhuma sociedade se realiza”, defendeu. “O desenvolvimento, por sua vez, não se define apenas por indicadores econômicos, e sim pela capacidade de uma sociedade criar e compartilhar sentidos”. Citou o economista Jorge Arbache, que tem lembrado que o Brasil só alcançará verdadeira competitividade quando transformar seu capital cultural em força criativa e produtiva. “Goiás ocupa um lugar privilegiado nesse processo: é o coração do país e pode ser também o seu centro simbólico. O Icebe, ao integrar cultura e educação, constrói essa ponte entre o que sustenta a economia e o que inspira a civilização – lembrando-nos de que o crescimento só tem valor quando eleva o espírito”.
“Que o nosso trabalho aqui seja uma ponte entre gerações, onde o passado floresce no presente e inspira o futuro. E que o Cerrado – essa imensa biblioteca de ventos, flores e histórias – continue sendo nossa casa, nossa escola e nossa inspiração”, concluiu.